Lei da parcimónia
Na economia clássica as crises económicas são o resultado de perturbações com origem num desequilíbrio entre a produção e o consumo. Já nas economias pré-capitalistas este problema é encarado como a resultante de fenómenos naturais, guerras ou movimentos sociais violentos que interferem drasticamente com o fornecimento de bens e serviços, desembocando na escassez súbita de abastecimentos. Na visão da economia capitalista, as crises têm normalmente origem ou numa situação de sobreprodução ou num período de exagerado consumo de recursos.
Estas visões estão genericamente enquadradas (origens e consequências) pela teoria dos ciclos económicos, havendo mesmo quem gradue a intensidade das crises pela duração dos seus períodos de depressão e de recuperação. Há até quem estabeleça intervalos de duração da prosperidade.
A fase de prosperidade (ou boom) é caracterizada por uma situação económica na qual os factores de produção estão em plena utilização e, consequentemente, não podem fazer crescer mais as suas remunerações (salários, juros/lucros e rendas), ponto a partir do qual a economia entra em retracção. Do seu cardápio de consequências fazem sempre parte a queda brusca da produção, a falência de várias unidades produtivas, o aumento do desemprego, a redução dos salários reais, o encolhimento dos lucros e, muitas vezes, a deflação.
Mas também aqui há que introduzir novas variáveis. De facto, nem a crise nem a qualidade dos factores de produção são equivalentes em todos os países, o que é muito relevante, dado que o mundo mudou com o fenómeno da globalização, tornando todas as economias interdependentes e todas as actividades económicas sujeitas a novos modelos e formatos de concorrência. Os europeus foram, desta feita, apanhados de surpresa.
Em resposta, as lógicas de estado-nação ganharam de novo força. Mas não há uma solução europeia sem um entendimento franco-alemão. Os dados estão lançados. O euro deixou aparentemente de ser nuclear. A França visa a construção de uma nova centralidade mundial construída em torno do euro. A Alemanha (expandida da ancestral notoriedade económica com o novo significado político) aposta em soluções liderantes a partir de consenso dos 27 membros da União. Discussão bipartida mas em que quase todos reclamam medidas comuns de fiscalidade e de viabilidade do euro.
A cada país compete agora evitar as alternativas de actuação que acentuam a sua fragilização. A Alemanha vai pugnar pelo seu modelo. Quanto a Portugal e aos seus aliados naturais, talvez seja aconselhável observarem a lei da parcimónia, isto é, entre duas soluções é provável que a mais correcta seja a mais simples.
Fernando Gonçalves
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