Sustentabilidade e inovação
Os especialistas prevêem que a actual população mundial vai aumentar em mais de 50% até 2050, atingindo mais de 10 mil milhões de pessoas. A pressão sobre o clima e a diminuição de nossos recursos naturais serão ainda mais intensa na medida em que as sociedades emergentes buscam uma melhor qualidade de vida. Com o número crescente de pessoas a fazer exigências a um planeta que já está a chegar ao seu limite, não é nada difícil perceber que a sustentabilidade será uma questão cada vez mais presente em nossas vidas, não apenas em relação ao clima, mas também na garantia de comida e energia suficientes para sobrevivermos. Reconhecemos que temos um sério problema, mas como vimos na conferência sobre alterações climáticas em Copenhaga, criar mecanismos e mudanças de comportamento e percepções não é nada fácil.
O Fórum de Gestão de Sustentabilidade Corporativa (CSM), uma iniciativa de pesquisa e ensino do IMD, foi criado para auxiliar as empresas a integrar questões sociais e ambientais em estratégias e processos empresariais. Resumindo, temos uma adesão de empresas globais para “meter a mão na massa” na área da sustentabilidade mundial, facilitando o intercâmbio de aprendizagem entre as empresas e indústrias. Acima de tudo, o CSM trabalha com equipas que enfrentam desafios de sustentabilidade nas suas empresas e, utilizando inovação aberta e o intercâmbio de conhecimento e técnicas, as ajudam a percorrer grandes passos às soluções.
As pesquisas indicam que existem obstáculos significativos na introdução de inovação de processos nas organizações, especialmente quando se trata de estratégias de sustentabilidade. Os gerentes tendem a enxergar a inovação como algo “nebuloso”. Alguns dos principais obstáculos para a aceitação de novas ideias são mentalidades enraizadas, resistência em introduzir mudanças num sistema que já está a funcionar (“se não está partido, não conserte!”) e uma tendência de realizar planeamento estratégico a curto prazo.
A maneira mais eficaz de superar esses obstáculos é mostrar que a mudança é necessária e também organizar inúmeros exemplos e demonstrações até que o novo conceito seja interiorizado na organização. Vamos chamá-lo de “a abordagem do pica-pau.” Mas isto é uma tarefa árdua para os gestores de sustentabilidade e os envolvidos com a sua incorporação nas organizações.
As pesquisas do CSM do IMD mostram que, na maioria dos casos, as empresas não desenvolvem e não incorporam plenamente um plano de negócios para maximizar a sustentabilidade, até mesmo em organizações mais progressivas. Mais importante ainda é o actual modelo dos accionistas que coloca ênfase primordial em resultados de curto prazo. Muitas vezes, não há recompensa ou incentivo a um gerente que apresenta à organização uma nova ideia, cujos benefícios não são imediatos. A maioria dos gerentes tem verba e tempo curto e hesitam, compreensivamente, em aumentar a carga de trabalho, a menos que haja uma vantagem tangível, clara e imediata para a empresa.
Nossa pesquisa também revela que mesmo em empresas que têm interesse directo na sustentabilidade, como as indústrias alimentares e de bebidas, fortemente dependentes de matérias-primas provenientes da agricultura (também afectada pelas alterações climáticas), muitas vezes há uma desconexão entre os interesses a longo e curto prazo de suas principais unidades de negócios, como as de marketing e de “procurement”, que definem suas próprias políticas dentro da empresa.
Então como é que um agente da mudança – a pessoa ou grupo que está realmente tentando inovar – consegue conquistar e convencer os cépticos e realmente dar continuidade à agenda da sustentabilidade? Como convencer a administração de uma empresa que, quando se trata da sustentabilidade, faz sentido para o negócio “ir além do ‘compliance’”? Nossa pesquisa mostra que o mero apoio à mudança não é suficiente. Abordar os principais interessados e accionistas de uma empresa requer uma análise cuidadosa e uma abordagem muito bem estruturada.
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