Domingo, 24 de Novembro de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

Criar a ponte entre o ‘saber’ e o ‘fazer’

Outrora já foi quase uma missão impossível. Raros eram os casos em que se processava a transferência de conhecimento e inovação das universidades portuguesas para o tecido produtivo, à custa de dificuldades de comunicação e conjugação de interesses. Contudo, o cenário tem vindo a mudar e a cooperação entre os meios académico e empresarial nortenhos tem sido uma prova dessa alteração.

“O funcionamento em rede entre empresas, universidades e organismos de investigação, é fundamental para a competitividade do país e traz vantagens mútuas para todas as partes”, considera Nuno de Sousa Pereira, director da Escola de Gestão do Porto – University of Porto Business School (EGP-UPBS).

Também o presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, Joaquim Azevedo, partilha entusiasmo na temática da ligação entre as universidades e a indústria. “É uma relação difícil entre dois mundos diferentes, mas estamos a dar pequenos passos muito importantes para afinar e focar pontos de contacto em que resultem mais-valias: transferência de conhecimento, tecnologia e pessoas altamente qualificadas”.

Para José Manuel Mendonça, presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC Porto), a relação universidade-empresa não é homogénea, mas começam a emergir “casos exemplares de transferência de ‘know-how’ com efectiva valorização económica, através de projectos de I&D em consórcio, subcontratação de serviços pelas empresas, licenciamento de tecnologia ou a criação de empresas de base tecnológica”.

Deste modo, abre-se caminho “para a criação de ideias empresariais inovadoras, para a participação em projectos de investigação com base na inovação científico-técnica e possibilita cátedras empresariais em instituições de ensino”, aduz Joaquim Azevedo.

Sediado no campus da Universidade do Minho (UM), o Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) tem sido um interlocutor com o mundo das empresas. “Ao estarmos na universidade, temos um contacto próximo com a fonte de ciência. A nossa missão passa por traduzir essas ideias para o mercado e convertê-las em projectos”, diz Rui Magalhães, director-geral do PIEP.

Para o responsável, a capacidade de diálogo entre académicos e empresários tem ganho força. “Não é por acaso que entidades de investigação como o PIEP têm representantes da indústria na administração”, sublinha.

“A própria EGP-UPBS tem um dos empresários mais importantes do país (Belmiro de Azevedo) a presidir o seu Conselho Geral. A relação com as empresas está cada vez mais presente na procura de inovação, de modo a acompanhar e criar tendências”, indica Nuno de Sousa Pereira.

Segundo José Manuel Mendonça, “é impossível, hoje em dia, haver empresas que não percebam a importância da inovação. Mas isto não quer dizer que tenham claro como podem ter produtos e serviços diferenciados e competitivos no mercado. As empresas necessitam de uma estratégia de inovação, alinhada com a sua missão e estratégia”.

Mas ainda há muito caminho a percorrer. “Andaremos mais e melhor se avaliarmos o que foi feito e soubermos focar o que queremos a seguir. Há estratégias mais disruptivas que podem ser seguidas, como importar ‘cérebros’ portugueses que saíram do país e dotar instituições de investigação de significativos envelopes financeiros, com prazos mais alargados, em áreas prioritárias, mas temos conquistas ganhas, que podem continuar a ser melhoradas”, salienta Joaquim Azevedo.

Para Rui Magalhães, as políticas de inovação têm dado frutos, porque indústria e universidades perceberam que só assim poderiam actuar melhor. “A indústria precisa de inovação e não tem. A universidade tem e não sabe a quem dar. Aproximar as duas realidades pode levar ao sucesso e os vários casos existentes no Norte são um sinal positivo”, garante.

in Jornal de Notícias