“Muitos empresários dificilmente sobreviverão se paranóia dos défices continuar”
Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa e militante nº1 do PSD, disse hoje que muitos empresários portugueses não vão conseguir resistir se a “paranóia dos défices” continuar.
“São muitos os empresários conscientes no país, que sabem que dificilmente conseguirão sobreviver se o sistema financeiro não funcionar, se a recessão e a paranóia dos défices orçamentais continuar, se a regulação não funcionar ou se os bancos não tiverem dinheiro para emprestar a tempo e horas”, afirmou na conferência anual organizada pela revista “Exame” dedicada ao tema “Dos Défices ao Desenvolvimento”.
“Estávamos convencidos de que tínhamos saído de uma crise e entrámos noutra crise mais profunda”, disse o empresário, sublinhando que “não podemos cruzar os braços e esperar que os outros resolvam os nossos problemas”.
“É preciso sair desta encruzilhada e definir o caminho a seguir, mantendo-nos fiéis à esperança”, acrescentou, citado pelo Expresso online.
Pouco depois, na mesma conferência, Fernando Ulrich, CEO do BPI, afirmava que não está longe o dia em que Portugal baterá na parede. “Talvez semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento, mas o país tem que saber”, advertiu.
“Medidas de austeridade vão manter-se enquanto forem necessárias”
Ambos falavam no dia em que o ministro das Finanças admitiu que o pacote extraordinário de medidas de austeridade aprovado na semana passada se possa manter em vigor para além de 2011. “São medidas que se manterão até que a consolidação se mostre sustentável e duradoura”, frisou Teixeira dos Santos, em Bruxelas.
O Governo português foi forçado pelos parceiros europeus e pelos mercados financeiros a refazer contas e o último compromisso apresentado pelo primeiro-ministro, José Sócrates, é de que, até ao fim de 2010, o défice estará em 7,3%, que compara com os 8,3% inscritos no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), aprovado há pouco mais de um mês Em 2011, o indicador voltará a baixar para 4,6% do PIB – menos um ponto percentual do que os 6,6% inicialmente previstos.
Portugal terá, assim, de concentrar em 2010 e 2011 o essencial do esforço de saneamento orçamental que o Governo esperava, até há poucos dias, poder adiar para a segunda metade do período de ajustamento para cumprir a promessa de que, em 2013, o défice estará aquém do limite de 3% imposto pelas regras do euro.
Para atingir as novas metas, o Governo, com o acordo do PSD, decidiu, entre outras medidas, aumentar em um ponto percentual todas as taxas do IVA, impor uma taxa adicional sobre o IRS e o IRC das grandes empresas. Os salários dos políticos e gestores públicos serão, por seu lado, reduzidos em 5%.
Este “pacote” foi anunciado por José Sócrates como sendo para vigorar até ao fim de 2011, mas o ministro das Finanças, tal como o Banco de Portugal, admite que o aperto de cinto se tenha de prolongar para além desse prazo.
Zona Euro não vai asfixiar com vaga de austeridade
Já o comissário europeu responsável pelos Assuntos Económicos garantiu que a Zona Euro não vai ser varrida por uma vaga de austeridade capaz de por em causa a retoma económica. Quem tem e está a preparar-se para fazer mais cortes orçamentais são os países mais endividados, caso de Portugal e de Espanha.
“Nem todos terão de acelerar a consolidação do mesmo modo”, precisou Olli Rehn. “Isso levaria a uma orientação orçamental muito restritiva para o conjunto da Zona Euro, que arriscaria a deprimir o crescimento económico”.
O comissário falava em Bruxelas, às primeiras horas da madrugada, no rescaldo de uma sucessão de quedas do euro, que ontem chegou mesmo a atingir o valor mais baixo contra o dólar dos últimos quatro anos.
Depois de terem castigado a moeda europeia e a dívida pública dos países do sul, alegando falta de credibilidade dos planos de saneamento orçamental, os investidores têm justificado agora a fuga do euro, e o refúgio na divisa norte-americana, com os receios de que a Europa esteja a exagerar na dose de austeridade e a comprometer a retoma da economia.
Esse receio parece ser partilhado por Francisco Balsemão, quando agora se refere à “paranóia” dos défices.