“Mais consolidação e imediata é fundamental”
“Para os países com fraca credibilidade orçamental, mais consolidação e imediata é fundamental”. A pressão renovada é feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório hoje divulgado sobre as perspectivas económicas para a Europa.
Embora não sejam referidos nomes, a advertência parece ser especificamente dirigida a países como Portugal e Espanha que, depois da Grécia, estão sob enorme pressão para fazer muito mais para cortar nos respectivos défices, de modo a contornar o risco de terem de ser socorridos pela comunidade internacional.
No relatório, o Fundo admite que vários Governos europeus se encontram confrontados com o pior de dois mundos: estão a ser forçados a cortar a fundo no endividamento, para evitar entrar em situação de incumprimento perante os credores, mas essa estratégia poderá resultar num regresso das respectivas economias à recessão.
Na opinião da instituição liderada por Dominique Strauss-Kahn, a regra geral para a Europa é que a retirada dos estímulos deve ser, por isso, muito progressiva, precisamente para travar o risco de as economias voltarem a retrair-se. Mas há países que não se podem dar esse luxo. “Para os países com fraca credibilidade orçamental, mais consolidação e imediata é fundamental”, sublinha.
Já ontem, em entrevista à agência Bloomberg, John Lipsky, nº2 do FMI, sublinhava que Portugal e Espanha devem agora centrar as suas prioridades na redução dos respectivos défices orçamentais, sendo essa uma tarefa essencial se a Zona Euro quer ver desaparecer, com a estratégia de defesa que montou durante o fim-de-semana, o risco de ver um cada vez maior número de países a cair na mesma armadilha da Grécia.
O “mecanismo de estabilização” financeira do euro – que poderá mobilizar até 750 mil milhões de euros para socorrer países a quem os investidores negam novos empréstimos (ou reclamam taxas de juro proibitivas) – “é um passo importante”. “Agora iremos ver o que acontece em outros países (para além da Grécia) que têm de levar a cabo esforços de ajustamento”, advertiu John Lipsky.
Não há segunda via
Também o Governador do Banco de Portugal alertou ontem que, no rescaldo da degradação das condições de financiamento, o país tem agora pela frente um ajustamento necessariamente “mais abrupto, mais rápido e mais severo”, sendo que, na opinião de Vítor Constâncio, tão pouco há alternativas.
Os países que têm sido mais pressionados pelos mercados, como é o caso de Portugal mas também de Espanha, não podem “interpretar erradamente” as medidas aprovadas pela União Europeia. Portugal tem que fazer o necessário para evitar recorrer à ajuda financeira da União Europeia e do FMI, “acelerando a redução dos seus défices orçamentais”, avisou o governador e futuro vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE).
No âmbito do acordo alcançado entre os líderes europeus, os Governos de Portugal e de Espanha comprometeram-se a acelerar o corte dos défices. Os respectivos ministros das Finanças assumiram ainda o compromisso de fazer um primeiro inventário das novas medidas que têm em mente na terça-feira, dia 18, no decorrer do encontro mensal do Ecofin.
O Governo português quer agora baixar o défice deste ano para 7,3% do PIB (cortando um ponto percentual ao valor inicialmente previsto) e para 2011 a nova meta é 5,1% (1,5 pontos de redução adicional). Na sequência das metas mais ambiciosas, assumidas após a pressão de vários dos seus pares, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, admitiu pela primeira vez a necessidade de aumentar impostos.