O risco país
No auge da crise, alguns bancos faliram e outros foram salvos pelos Estados a que pertenciam.
Hoje é pior: há Estados que ameaçam falência e nem os bancos querem salvá-los. O mundo virou de pernas para o ar. Numa das suas últimas edições, a revista britânica ‘The Economist’, citando números da OCDE, faz uma avaliação dos riscos de insolvência de alguns países, entre os quais o nosso. É um estudo interessante, que vou procurar sintetizar.
O risco de ‘default’ é analisado à luz de três critérios: o défice orçamental sem juros, a dívida pública acumulada e a diferença entre a taxa de juro e o crescimento nominal do produto. Quanto maiores forem estes indicadores maior será a dificuldade em respeitar os compromissos e, nessa medida, maior o risco país. Os dois primeiros critérios são óbvios; o terceiro carece de explicação.
Admitamos um cenário em que a dívida pública é igual ao PIB e que ambos são representados por 100. Se, no ano seguinte, a taxa de juro que incide sobre a dívida for de 5% e o crescimento nominal do PIB de apenas 3%, o PIB passa para 103 e a dívida para 105. Isto significa que, independentemente de tudo o resto, há aqui um duplo agravamento da dívida – ela sobe em valor absoluto e na sua relação face ao PIB. Esta é a imagem de Portugal ao espelho.
Na lista de 23 países da OCDE submetidos à análise de risco, Portugal aparece em quinto lugar, atrás da Grécia, da Irlanda, do Reino Unido e do Japão. A Espanha vem imediatamente a seguir. Não é um mau resultado, se atendermos a que todos eles se apresentam num grau de desenvolvimento mais avançado do que o nosso. Mas é um resultado que, ainda assim, põe a nu dois dos nossos principais problemas: o baixo crescimento e o enorme peso da dívida.
O efeito não deixa de ser curioso. E tanto mais quanto sabemos que, pelo menos em parte, o crescimento e o endividamento são causa e efeito um do outro. O que nos leva a um movimento circular: crescemos pouco porque somos penalizados pela dívida; endividamo-nos muito porque o crescimento não descola. Eis uma palavra, a que chamaria objectivo, que políticos e empresários deveriam prosseguir, se necessário à força: crescer, crescer, crescer.
A propósito: como é que se cresce?
Daniel Amaral, Economista