Segunda, 25 de Novembro de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

A sobrevivência da zona euro

Antes de mais importa perguntar o que deve a zona euro fazer para sobreviver aos choques que aí vêm. A sua sobrevivência depende, pelo menos, de três condições.

A primeira reside num sistema de gestão de crises robusto e transparente. O resgate da Grécia poderá, em minha opinião, servir de embrião a esse sistema, muito embora tenha de ser trabalhado formalmente e aprovado pelos parlamentos nacionais para ter um elevado grau de legitimidade. Ou seja, não deverá ser imposto.

Um bom sistema de gestão de crises também tem de minimizar o chamado ‘moral hazard’. Os países que beneficiarem de ajuda terão de aceitar a perda parcial de soberania, razão pela qual deverá contar com o apoio político de todos os estados membros, que embora não tenham vontade política para apoiar salvamentos incondicionais, aceitam ajudar-se mutuamente em situações de crise – na condição de o país ajudado adoptar medidas correctivas.

A segunda condição para a sobrevivência implica uma redução substancial dos desequilíbrios internos, que estão no cerne da presente crise. Para isso, quer os países com défices elevados na balança de transacções correntes, como Grécia e Espanha, quer os países com excedentes, como a Alemanha, terão de tomar medidas. Espanha teria de reformar o mercado de trabalho para poder ajustar os salários reais, ao passo que a Alemanha deveria estimular o consumo e reformar o imposto sobre o rendimento – que há muito tarde em acontecer. A Grécia chegou à situação em que se encontra devido a desequilíbrios como esses.

A terceira condição obriga a União Europeia (UE) a imprimir novo ímpeto às propostas de supervisão do sistema financeiro, que é no fundo a principal ameaça à estabilidade a longo prazo da economia da zona euro. Uma regulação financeira fragmentada além de não fazer sentido numa união monetária é potencialmente letal. Mas não só. A zona euro deve também adoptar algumas políticas suplementares para fortalecer a sua coesão política e económica: manter o equilíbrio existente no Banco Central Europeu, instituição que granjeia respeito e confiança entre os estados membros; definir a sua representação externa, isto é, reforçar a sua voz no debate macroeconómico, do qual depende o futuro do sistema monetário global; por último, a UE – e não a zona euro – tem de reconstruir o mercado interno e agarrar esta oportunidade para gerar ganhos de produtividade necessários à prosperidade.

A razão pela qual me tornei mais céptico sobre as perspectivas a longo prazo para a zona euro não se prende com o sistema económico inerente à união monetária, mas sim com a aparente falta de vontade política de fazer o que é necessário.

Tradução de Ana Pina
____

Wolfgang Münchau, Editor associado do Financial Times

in Diário Económico