A comparação entre Portugal e Espanha com a Grécia tem sido feita pela Imprensa
A Comissão Europeia rejeitou hoje a acusação de que tenha sido ela a pôr Portugal e Espanha no mesmo plano da Grécia, precisando que as declarações de ontem de Joaquin Almunia foram feitas depois de uma pergunta em que se comparavam os países ibéricos ao caso grego.
“A comparação tem sido feita pela Imprensa. Não por nós. O que o comissário Almunia se limitou a fazer foi responder com factos que são sobejamente conhecidos de todos e fazendo questão de precisar que há problemas comuns a esses três países como a outros da Zona Euro”, disse Amélia Torres, porta-voz do comissário do Euro, ao Negócios.
A ministra da Economia espanhola, Elena Salgado, criticou hoje Joaquin Almunia, seu compatriota e colega de partido (PSOE), considerando “pouco prudente” o facto de este ter feito um paralelo entre a Grécia e a situação económica em Espanha e em Portugal. Em declarações à rádio espanhola COPE, Salgado considerou que o comissário “tinha simplificado demasiado” a realidade dos três países.
A ministra queixava-se depois de os mercados financeiros terem aparentemente voltado “baterias” contra os países ibéricos, dando alguma “folga” à Grécia, continuando hoje exigir taxas de juro mais elevadas para comprar dívida espanhola ou portuguesa.
Ontem, na sequência de uma pergunta de um jornalista português, que quis saber se Almunia concordava com a colagem que muitos fazem do caso português e espanhol ao grego, o comissário respondeu que Grécia, Portugal, Espanha assim como “outros países” da Zona Euro partilham alguns problemas como “a perda constante de competitividade” e o elevado défice púbico.
“Alguns países da Zona Euro, com diferentes pontos de partida, diferentes dimensões no tamanho dos seus desequilíbrios, com diferentes características nas suas economias, partilham alguns dos mesmos problemas. Falou da Grécia, de Portugal e de Espanha, mas poderíamos juntar outros países a esta análise”, começou por responder o comissário.
“Estes três países, que não são os únicos, partilham algumas características”, disse, dando como primeiro exemplo a “perda permanente de competitividade desde que se tornaram membros da união económica e monetária” – “em termos de evolução dos custos unitários de trabalho, é óbvio que estão numa tendência de divergência”, precisou.
Almunia acrescentou de seguida que “alguns países têm défices consideráveis com componentes cíclicas, mas também estruturais” – ou seja, que não decorrem apenas da actual crise – e que “no caso da Grécia e de Portugal, mais do que no caso de Espanha neste aspecto, as necessidades externas de financiamento são muito elevadas, mesmo em momentos em que o crescimento do PIB é baixo”.
“É preciso intensificar” redução do défice
Sobre Portugal especificamente, e depois de questionado sobre o pensava da proposta de Orçamento do Estado para este ano, o comissário disse que o Governo vai ter de “intensificar” o ritmo de consolidação orçamental, depois de ter revelado valores para o défice de 2009 e previsões para 2010 “ligeiramente superiores ao esperado”. O défice orçamental terá sido de 9,3% do PIB em 2009, o que corresponde a um máximo histórico, e o valor inscrito na proposta de Orçamento do Estado para 2010 é de 8,3%.
Portugal comprometeu-se com Bruxelas a baixar o défice para o máximo de 3% do PIB até 2013, assumindo um compromisso que se estende à quase totalidade dos países do euro, que entraram em forte “derrapagem” orçamental na sequência da crise financeira e económica.
Terça-feira, na conferência sobre “O Estado e a competitividade da economia portuguesa”, organizada pela Antena1 e pelo Negócios, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, disse que essa meta só poderá ser alcançada com “novas e difíceis medidas” do lado da despesa e que dificilmente o Governo conseguirá evitar um aumento dos impostos indirectos, como o IVA. O não aumento da carga fiscal é uma das promessas eleitorais do PS.