Microcrédito: uma saída para o desemprego
O microcrédito pode ser a bóia de salvação para muitos desempregados, ainda para mais numa altura de crise, em que são destruídos tantos postos de trabalho. Os bancos concedem este pequeno empréstimo – que pode chegar aos 17.500 euros – sem comissões e a spreads baixos para quem tenha uma boa ideia de negócio. A Agência Financeira foi conhecer dois microempreendedores.
A Susana Vergueira e a Claúdia Mora trabalharam como jornalistas durante cerca de 10 anos, até que o jornal onde trabalhavam fechou e ficaram no desemprego. Foi então que se lembraram de um velho sonho: ter um salão de chá. Como já conheciam o conceito de microcrédito, contactaram o banco. Como eram universitárias, a garantia de apoio foi imediata, assegura a directora do microcrédito do BCP, Helena Mena, que se compromete – em qualquer caso – em dar uma resposta em 48 horas.
Cerca de um ano depois, em Setembro de 2009, a Susana e a Cláudia viam o seu projecto se concretizar. Abriram um salão de chá – um franchising espanhol – no centro de Queluz. Cada uma obteve um crédito com condições especiais de 5.500 euros e ainda com ajuda do subsídio de desemprego do Estado.
«Foi um processo célere e o microcrédito foi uma peça-chave fundamental. Além disso, acompanharam-nos durante todo o processo», contou Susana Vergueira à AF
BCP e ANDC criaram 3.200 postos de trabalho
Helena Mena explica que o BCP está receptivo a qualquer ideia de negócio economicamente viável e esse é o primeiro requisito para que os contactar. Uma vez tendo a ideia pode fazer a proposta ao banco através das agências especializadas (Lisboa, Porto, Funchal e Ponta Delgada) ou em qualquer sucursal, e-mail e até por telefone. O montante pode chegar aos 17.500 euros por candidato, com uma taxa associada baixa e que varia consoante a natureza do projecto e perfil do candidato.
A responsável mostra-se satisfeita pelos números já conseguidos. «Em conjunto com a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC), aprovámos quase 2 mil operações, criámos 3.200 postos de trabalho e concedemos 15 milhões de euros», adianta Helena Mena à AF, que realça que cerca de 5% chega a conseguir pagar o crédito antes de tempo.
Em poucos meses, Ricardo Leal também viu o seu sonho realizado. Formado em Antropologia, preferiu um início de vida adulta estável. Contactou a ANDC que a encaminhou para a Caixa Geral de Depósitos (BCP). Pediu 7 mil euros para abrir uma loja de bicicletas no centro de Lisboa e seis meses depois via o projecto concretizar-se.
Taxa de sucesso é de 80%
«Já ajudámos centenas de pessoas a quem estava excluído social e economicamente. Agora, com a crise, esperamos que a procura aumente 200 a 300%, até porque criámos um novo protocolo com o Instituto Emprego e Formação Profissional. Estamos preparados», disse à Agência Financeira o responsável da área do microcrédito da CGD, José Timóteo, que concede créditos com condições especiais até 12.500 euros.
Além do BCP e da CGD, também o BES concede microcréditos. Em qualquer caso, o período de reembolso é de 48 meses. A prestação mensal será constante e a taxa de juro incluirá um spread sobre a Euribor a 3 meses, de 2% para o BCP e CGD ou 3 % para o BES.
Recorde-se que, no passado mês de Dezembro, o Governo anunciou ainda novas medidas para facilitar o auto-emprego, nomeadamente foi aprovada – em conselho de ministros – a criação de sociedades não-bancárias para a concessão de microcrédito.
Com uma taxa de sucesso de 80 por cento, o microcrédito recompensa quem está disposto a arriscar. Um risco que até os bancos estão sujeitos a pagar. Mas a Susana e o Ricardo são apenas dois casos de sucesso. O microcrédito já criou milhares de postos de trabalho em Portugal. O que é preciso: inspiração e força de vontade.
in IOL Diário