Segunda, 25 de Novembro de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

Não somos gregos

Não somos gregos, não temos os mesmos desequilíbrios de contas públicas nem sequer os mesmos problemas de fiabilidade estatística sobre os números de défice e dívida pública, mas os mercados e os investidores internacionais estão a colocar os dois países no mesmo cesto. Dito de outra forma, a ‘gripe A financeira’ chegou a Portugal.

Bem podemos dizer aos sete ventos que as agências de rating são, também, responsáveis pela crise financeira do mundo, a maior dos últimos 30 anos, bem podemos chamar à atenção para os erros clamorosos dessas agências na avaliação de bancos e seguradoras que, pouco depois de notas positivas, acabaram por falir. Os mercados continuam a valorizar a opinião destas ‘juízes’ do mercado financeiro e foi isso que sucedeu esta semana a Portugal. A Moody’s publicou um relatório em que classificava a situação de Portugal de ‘morte lenta’, facto que, associado ao desastre grego, resultou no agravamento do chamado risco-país. Traduzido de forma simples, o custo de financiamento do Estado português no estrangeiro aumentou de forma significativa nos últimos dias, obrigando as autoridades nacionais a emitirem um comunicado de urgência, onde deixam claro que os salários da Função Pública não vão aumentar em 2010. Porquê este indicador? Porque as remunerações dos funcionários públicos valem cerca de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, é uma variável determinante na consolidação da despesa pública.

Não somos gregos, mas temos problemas estruturais que têm de ser corrigidos, e rapidamente, para não caírmos na armadilha da ‘morte lenta’. Dito isto, o Orçamento do Estado de 2010 tem de dar sinais e os incentivos correctos, tem de apoiar os mais desfavorecidos, tem de apoiar as empresas exportadores de produtos com valor acrescentado e tem de pagar a tempo e horas às empresas. Será, também, necessário cortar o défice público, reduzindo a despesa e promovendo investimentos produtivos e rentáveis. Estes serão os sinais claros para o país, em primeiro lugar, mas também para os mercados, porque estes condicionam a nossa vida, a vida dos portugueses.

O Governo abriu esta semana as negociações políticas com a oposição e, como se suspeitava, um acordo só será possível à Direita parlamentar, com o PSd ou o CDS. Qualquer que seja o acordo, tem de resultar num orçamento que permita um crescimento económico saudável e sustentado.

AS OPA SOBRE A CIMPOR

A Cimpor continua nas bocas do mundo por causa da proposta de fusão apresentada esta semana pela Camargo Corrêa. Uma operação que é, em si mesma, positiva porque, em conjunto com a OPA lançada pela CSN, revela que existem boas empresas em Portugal que são valorizadas e apetecidas no estrangeiro. O facto de os dois interessados na cimenteira portuguesa serem brasileiros não deve, ainda assim , ser analisado e discutido no plano dos centros de decisão nacionais, porque será, certamente, melhor para a empresa, os trabalhadores e o país que exista uma gestão clara e bem orientada, mesmo que exercida por estrangeiros, que a confusão e desnorte em que a Cimpor tem estado mergulhada nos últimos meses. Neste momento não é possível comparar os méritos e deméritos das duas operações. Enquanto a OPA lançada pela CSN está bem definida, com um preço por acção e equitativa para tdos os accionistas, a proposta de fusão da Camargo Corrêa é opaca nos termos e na valorização que é feita da própria cimenteira nacional. Esta indefinição já levou a CSN a protestar junto da CMVM contra o que considera ser uma OPA encapotada. Ao regulador do mercado de capitais cabe agora identificar claramente as intenções das duas empresas e promover uma concorrência leal entre ambas. Uma das ofertas, a da CSN, é vinculativa, mas a outra, a da Camargo Corrêa, não o é e permite amplas negociações caso a caso. Como não é possível comparar as duas operações e saber qual é a mais favorável para os interesses dos accionistas da Cimpor, para todos os accionistas, resta esperar que ganhe a melhor. A bem da maior empresa industrial do país.

in Diário Económico