Sexta, 18 de Outubro de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

“Norte caminha para ser uma região de vanguarda”

Entrevista a Carlos Lage, presidente da CCDR-N.

Uma vitrina para as melhores práticas de desenvolvimento regional. É desta forma que Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), caracteriza os prémios “Novo Norte”. O responsável acredita que os galardões vão dar maior visibilidade a uma série de iniciativas em curso, públicas e privadas, que tentam contrariar uma economia afectada pelo desemprego e que auguram um futuro “gerador de riqueza” em vários domínios da sociedade.

Que objectivos tornearam a criação dos prémios Novo Norte?

Esta acção vem tornar visível uma série de bons exemplos de desenvolvimento regional. Procuramos distinguir boas práticas, públicas e privadas, de modo a contagiar outras iniciativas. Trata-se de uma medida que, pelo alcance e originalidade, pode constituir escola. Será uma espécie de vitrina do melhor que se faz no Norte e estou muito esperançado que venha a ser coroada de êxito.

Que áreas vão ser distinguidas?

Há projectos de grande valor em vários domínios, como o económico, social e cultural. Os prémios vão focar seis categorias temáticas e não se ficarão apenas pela vertente económica. Há indicadores de mudança e transformação na região e os prémios “Novo Norte” poderão dar maior visibilidade a esses temas.

Entre essas seis categorias, que temas destacaria?

O prémio Norte Civitas aborda, para mim, uma das temáticas mais atraentes. Com o Programa Operacional Regional do Norte (ON.2), lançámos uma vasta operação de requalificação do espaço urbano das cidades nortenhas, em que já foram aprovados programas de acção que atingem os 280 milhões de euros. São projectos gizados pelos municípios e que estão a melhorar a paisagem urbana de centros históricos, zonas ribeirinhas e espaços degradados existentes em toda a região.

No capítulo das indústrias criativas, o Norte é também pioneiro…

A ideia andava no ar há anos, mas nunca tinha tido aplicação prática. As indústrias criativas, pelo seu potencial inovador, podem contribuir para o emprego qualificado e progresso da região. A criação do “cluster” no Grande Porto foi uma iniciativa única no país. Estes prémios poderão ter um forte efeito difusor sobre os actores e instituições que procuram oportunidades na área. Mas o Norte tem projectos exemplares em vários ramos. É o caso, por exemplo, dos parques de ciência e tecnologia, infra-estruturas que o ON.2 tem apoiado.

Mas nem tudo tem sido positivo. A região vive uma situação económica e social difícil, com o desemprego a aumentar cada vez mais…

O desemprego acelerou em toda a Europa em consequência da recessão económica, mas a região tem tido, desde 2002, uma taxa de desemprego superior à média nacional. É um fenómeno novo que deriva do emprego nos sectores tradicionais que foi destruído pelas economias de países emergentes. Só a indústria têxtil perdeu 90 mil postos de trabalho. Algumas pessoas foram absorvidas pelo sector dos serviços, mas isso não impediu a subida da taxa de desemprego. Alguns sectores começam agora a modernizar-se, como se verifica no ramo do calçado, ou no turismo, que nos últimos anos descobriu as potencialidades de geração de riqueza e postos de trabalho na região.

Faria sentido que o Governo adoptasse um programa de apoio para atenuar as debilidades da região?

Não me parece que essa seja a melhor solução e estratégia económica. Os problemas da região são estruturais e os mesmos do país. O Norte é de tal maneira vasto e representativo, em termos populacionais e económicos (30% do PIB e 40% das exportações nacionais), que não é susceptível de ser sujeito a uma intervenção para tratar de certos problemas localizados, como houve em Setúbal ou no Vale do Ave. É preciso, isso sim, que o Estado seja capaz de redireccionar investimentos públicos e privados, de grande magnitude, para o Norte. Isso seria mais importante do que qualquer programa que encare a região como pobre e desvalida. Seria muito grave assumir essa imagem, em termos de competitividade externa, e até um pouco humilhante.

Que medidas poderiam então impulsionar o Norte?

Era importante ter um apoio do Estado direccionado para a região, através de uma intensificação dos apoios comunitários e de uma acção decidida em tudo o que representa renovar as fontes de riqueza, de inovação e de competitividade no mercado externo. Essas políticas podem trazer o dinamismo pretendido, mas o Norte também terá que dar o máximo de si própria para gerar empreendedorismo, tecnologia e qualificar recursos humanos, esta última é mesmo uma dificuldade que vem sendo ultrapassada nos últimos tempos. É aqui que reside o futuro da região e não propriamente no seu tratamento terapêutico.

Como se explica a dicotomia de uma região pujante na vertente científica, mas que não vê isso reflectir-se na sua economia?

A região não pode ser rotulada como condenada à decadência e ao subdesenvolvimento. Há sinais objectivos que demonstram o contrário, com mutações em curso, que têm o seu tempo de maturação. É verdade que o Norte tem um nível de desemprego preocupante, mas tem igualmente empresas a imporem-se no mercado mundial pela sua qualidade e inovação. Além disso, a região tem dez dos 18 pólos de competitividade existentes no nosso país. Tem mais “clusters” do que, por exemplo, tem Lisboa, onde estão os pólos de competitividade dos serviços do Estado…

Está confiante em relação ao futuro do Norte?

É um processo que ainda vai a meio e estou convencido que, se o Norte vier a ter independência administrativa, vai ser uma região de vanguarda em muitos aspectos. Temos três universidades e um instituto politécnico que se têm afirmado pela qualidade e investigação mostradas. Há ainda laboratórios de enorme prestígio internacional e o Instituto Ibérico de Nanotecnologias, criado recentemente em Braga, que poderá ter muita importância, com a produção de novos materiais. Há aqui sinais que prefiguram um grande futuro.

Que papel atribui às PME e o que tem feito a CCDR-N para apoiar o tecido empresarial?

As PME são uma questão vital. O futuro da economia da região e do emprego existente na mesma está nas pequenas e médias empresas. Neste momento, temos pronto um Programa de Competitividade e Convergência para a região Norte. Estamos a integrar todas as agendas planeadas para diferentes áreas de actividade num só programa, cujo coração se centra, fundamentalmente, nas áreas da inovação, ciência, tecnologia e internacionalização de empresas. A segunda dimensão passa por gerir os fundos comunitários e ajustá-los a estas prioridades. O sistema de incentivos à actividade empresarial, inserido no ON.2, tem já cerca de 230 milhões de euros afectados. O objectivo não passa por disseminar apoios por um número máximo de empresas, mas sim pelas que forem portadoras de inovação. Noutra vertente, temos promovido ainda a criação de áreas de acolhimento empresarial modernas, que apresentam vantagens às empresas em matéria de sinergias e economia de custos.

Que balanço faz da aplicação dos fundos comunitários provenientes do QREN, no âmbito do ON.2?

De momento, as candidaturas já aprovadas atingem os 1100 milhões de euros, repartidos pelos vários eixos. Num total de 2700 milhões de euros, temos cerca de 40% comprometidos. A taxa de execução é modesta, porque o circuito dos fundos comunitários é muito complexo e demasiado lento para meu gosto. Mas estou convencido que 2010 pode ser um ano de grande avanço na execução física e financeira. Há muitos projectos em marcha, como a requalificação urbana das cidades nortenhas, a renovação do parque escolar ou o financiamento da gare marítima de Leixões, que permitirá a criação de um novo terminal de cruzeiros em 2011. Está ainda em marcha a construção de marinas em cidades do Minho. São exemplos que vão sobressair no futuro.

in Jornal de Notícias