Domingo, 24 de Novembro de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

Bessa: “retoma frágil e muito dependente dos cirurgiões”

Ex-ministro da Economia apontou “erros sérios” cometidos nos anos 90, a que chamou “populismo desenfreado” que prejudicou os anos 2000 e disse que a exportação é a única alternativa para a economia portuguesa

Cuidado. O problema em Portugal é de procura e não de capacidade das empresas. Na Europa, as notícias não são boas. O consumo privado está em queda na Zona Euro. Foi este o alerta deixado às muitas dezenas de empresários e de figuras ligadas à banca que ontem participaram, no Funchal, na conferência do professor Daniel Bessa, nos encontros Millenium bcp.

“Há um ano, estivemos muito próximo da catástrofe. Mas esses maus dias encontram-se arredados”, disse o economista. Contudo, “a retoma é frágil e está muito dependente dos cirurgiões, seja Governo e Ministério das Finanças, sejam os bancos centrais”, acrescentou. Mesmo assim, as notícias sobre a banca em termos mundiais “não são as melhores”, porque há a consciência de que o sector vai “perder muito dinheiro no ano de 2010 por incumprimento” de devedores, daí os lucros deste ano serem bem vindos.

Daniel Bessa admite que a situação mudou, talvez por “termos receado o pior, mas as coisas começaram a desanuviar”, considera. Por exemplo, os últimos dados sobre o comércio automóvel, em Portugal, reportam um aumento das vendas em Outubro face ao mês homólogo de 2008. Há também boas perspectivas para o crescimento do PIB, havendo ainda outros indicadores que dão alguma segurança, como as cotações das acções em Bolsa a subir desde Janeiro.

Só que nada disto tem ainda impacto no emprego, a última variável a recuperar. Ou seja, o desemprego para 2010 vai ainda aumentar, garantiu. Do passado Daniel Bessa falou pouco, mas fê-lo com todas as letras. Apontou “erros sérios” cometidos nos anos 90 em Portugal, quando a “economia portuguesa se distraiu com as exportações”, apesar das taxas de desemprego baixas e da subida do crescimento, “muito à custa da despesa pública e do endividamento”. A isto chamou “populismo desenfreado”, uma “bela história mal contada” que prejudicou os anos 2000, segundo o antigo ministro da Economia do Governo de António Guterres.

Perante a actual situação, Daniel Bessa garante que não há alternativa para a economia portuguesa a não ser exportar. Se, por um lado, “não podemos esperar pela recuperação interna”, perspectiva-se para 2010 uma redução do consumo privado, tendo em conta o endividamento das famílias e a fragilidade do futuro das reformas; por outro, terá “consequências graves se fomentarmos o crescimento pelo lado do gasto público”, defendeu.

Para o economista, ainda não deixámos de falar na crise, embora “a situação seja menos aguda do que há uns meses”. Comparando com outras crises mundiais, Daniel Bessa salientou que “esta surgiu de forma atípica”, ou seja, iniciou-se na banca, com implicações graves porque associada ao funcionamento das economias.

in Diário de Notícias